domingo, 2 de novembro de 2014

Das voltas

Olhe bem fixamente em meus olhos e me diga que não vê as voltas que você me faz dar. Criatura, meu ser alui em seus braços. Apenas um toque, e despertas. Não sou capaz de não admirar e ao mesmo tempo odiar-te por esta capacidade de me desfazer. Uma imensidão em lágrimas, saliva e abraços. Todas aquelas falsas e verdadeiras juras do retorno. E até quando se sabe que o pra sempre de eterno nada tem. Você apenas retorna e fica por mais um período em meus suspiros. Não tem como, eu não sei não morrer de amores por todos os sorrisos que me são roubados. Me deixe estar, na esquina de seus beijos, enquanto espero teu olhar. Sonhar ao saber que todos os pesares de vidas ínfimas vão além de rancores. Me dê sua mão, que acaricia, dedilha e dança por mim. Feche meus olhos com seus lábios novamente.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Te amo

Não consigo explicar de forma bem tangenciada a maneira que é sentir-se perto e longe de alguém. Não falo de distanciamento emocional, espiritual, ou nada assim, é algo bem mais platônico que me faz perder a graciosidade das palavras. Falo de tocar o arrepio da pele de alguém, penetrar em seus olhos claros, cor de mel e, ainda assim, sentir como se, todo aquele corpo que ali se encontra enroscado ao seu, lhe é inalcançável. Uma linha tênue entre o que lhe é palpável e real e o que, psiquicamente, lhe parece impossível. Talvez eu esteja apenas falando da incredulidade. Quando a sintonia, o tato, os toques afáveis de olhos lhes são tão puros, suaves e paradoxalmente intensos ao mesmo. Quando estar perto se faz gélido e quente ao mesmo, numa combinação sinestésica que faz estômagos tremerem. Acho que descobri, finalmente, o que é o amor. Não é o nervoso ou a calma, nem o medo ou a coragem. É uma fusão de todas as coisas. Sentidas num só momento descrito em um segundo eterno. É ter medo e ser corajoso, é fugir e se entregar. Sentir-se arrepiado de frio e possuir o corpo quente ao mesmo tempo. Suar e sentir-se ressecado. É a infinidade de ser, sentir, manifestar. O tudo e o todo combinados naqueles dois corpos estendidos em uma cama, num domingo calmo, ensolarado. De quem pode deixar "o verão pra mais tarde" e querer viver o mundo todo, juntos, intensamente, ao mesmo tempo.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Cítrico

O incenso diz trazer força e realizações, o cavalete foi recém montado numa espécie de descoberta interna muito louca, meio espiritual. Ao fundo músicas que mal cabem em palavras. Que falam diretamente com a alma. O frio chegou fortemente esse ano na serra, mas eu gosto de deixar uma brecha da janela e os pés desnudados numa espécie de sensação de não possuir o controle de tudo. Um livro novo que fala sobre a graça das coisas, me condem, mas essa tal de Martha Medeiros tem a mania colocar em palavras tudo aquilo que eu não consigo. É engraçado ler-se por outra pessoa que nem sabe a sua existência.Isso só me prova como no final de tudo somos todos tão parecidos. Mesmo que tão diferentes. Angustias, medos, receios, amores, paixonites, erros. E é bom saber, aqui sentada, em meio a uma tentativa tola de beber um cítrico bem quente afim de aquecer os pés, que existe em algum lugar alguém com tais devaneios. Escrevo meia palavras, tomo um gole, danço uma música, abraço alguém mentalmente. Me canso na saliva. E retorno a realidade fria de minhas cobertas. Na idealização quase perfeita de uma sexta fria. Só faltando um pequeno detalhe que foi viver essa espécie de vida de vocês que mata.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

"One step closer"

Ela tem os olhos de sua mãe. Um misto de doçura com aquela expressão de quem pede algo. O cheiro do perfume que esqueceram no armário, mas ainda lhe é familiar. E vocês caminham por aí. Por milhares de estradas e campos, gramados. Cantando músicas atoas no carro e fazendo piadas com transeuntes. Todas estas coisas bonitas que envolvem e embalam os apaixonados. Olhos que brilham, semelhanças e características paternas que nos fazem sentir uma espécie de aconchego no abraço do outro. Um sorriso, uma gargalhada, uma frase inesperada. Uma música cantada desafinadamente que deságua em crises de risos. Guerras de travesseiros combinadas a filmes não assistidos. Promessas, planos que se desfiguram no plano de uma imensidão que vocês podem enxergar juntos. Cada suspiro, cada toque, cada respiração ofegante que faz parecer que o chão treme. A coragem de dois. A thousand years, one step closer

quinta-feira, 29 de maio de 2014

480 dias

Quatrocentos e oitenta dias. Sim, todos estes dias por extenso. Mais uma viagem naquelas estradas que juntos nos traziam ao paraíso. Eu nem sabia que eu ainda podia chorar pensando em tudo aquilo. Na nossa naturalidade. Em como todo esse processo que as pessoas falam, sobre se conhecer e deixar acontecer. Tenho certeza que você também acha engraçado. Elas os usam de argumento pra não se entregarem e viver, não é mesmo? Ou vai ver o que se passa pela cabeça delas é diferente, porque elas nunca serão eu e você. Vai ver elas nunca se reconhecerão. Eu tenho pra mim, e isto foi dito milhares de vezes, entre beijos, abraços, odores e lágrimas, que na verdade eu nunca cheguei a te conhecer. A verdade é que por mais hollywoodiano que pareça, quando meus olhos te tocaram pela primeira vez eu já sabia tudo sobre você. Sabia que eu não iria a lugar nenhum, a partir dali, sem lembrar de você.E eu sei que esse foi o mesmo olhar que colou em mim enquanto eu, desengonçada entre a chuva, batia e caia no carro. É estranho pensar nisso hoje em dia, em que qualquer beijo me assusta. Eu acho que ninguém recebe um presente desse duas vezes na vida. Mas eu preciso acreditar. De olhar pra alguém e já saber o que é certo. Simultaneamente nossos peitos se inflaram de nós. Quão raro um amor assim pode ser? Que cresce em todas direções, sem que força nenhuma fosse feita. Foi feito calefação, nossos olhares, e então, tudo pronto. Sem que alguém pensasse na velocidade das coisas. Ah querido, como ser amada assim me deixou mal acostumada. Hoje eu não consigo querer menos do que já tive. E muitas vezes arrumo desculpas para ir embora. Porque ninguém no mundo me fez me amar tanto como você. Você me mostrou coisas em mim que eu nem poderia cogitar. Amou e me fez amar as minhas esquisitices e peculiaridades que eu passei uma vida escondendo de mim mesma. Você me ensinou a ser quem eu sou e que não importa se eu invento vozes pros personagens dos meus livros. Se eu canto fora do ritmo ou alcanço um agudo insuportável cantando Adriana Calcanhoto. Porque eram todas as minhas peculiaridades, desde comer uma panela de arroz escondido e dizer que uma fada roubou. Ou chorar porque dois velhinhos se abraçaram na rua. Dançar no meio do shopping pra te fazer passar vergonha. Eram elas que te faziam ficar. Não é como se eu o quisesse de volta. Não mesmo. Eu fico feliz ao ouvir alguém me sussurrar sua felicidade em alguma madrugada tola. E eu sussurro pro mundo que eu estou bem. Que eu também achei outro alguém e que meu peito transborda com esta felicidade. Mas a verdade é que é só pra você viver bem, porque eu sei que eu só fico bem se você ficar. E a reciproca sempre será verdadeira. Hoje eu entendo as tormentas, as turbulências e sei que o seu lugar não é mesmo aqui. Mas eu preciso te agradecer por me ensinar a amar. Amar você, me amar e aprender que amor não é isso que eles pintam nas paredes, ou fingem que sentem. O amor pode não ficar pra sempre, mas ele vem tão de dentro e é tão puro que nos faz querer ser mais. Melhores. Quatrocentos e oitenta dias se passaram, menos do que os que passei ao seu lado, mas ainda sim o suficiente pra saber que o "você" que passa por mim não é mais o mesmo. E que o meu "eu" se tornou outra pessoa também. O fluxo contínuo da vida é a mudança. Mas tenha certeza que o "você" que esteve aqui nunca se esvairá.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Incoerente

Acordei. Meu nome deveria ser mudado para insônia. Não importa a quantidade de sono que tenho, a madrugada sempre me espera com um abraço e um risinho irônico. Enfim. (3:19)O vizinho anda incansavelmente pela casa. Talvez ele se inquiete assim como eu faço. (3:20) Por um acaso, você já não se perdoou por atitudes tomadas que não condizem com o que você acredita ser? Meu pensamento ficou tomado por este questionamento, e fui inundada por pensamentos a respeito dos medos. Uma pilha de livros a serem lidos, uma lista de filmes a serem vistos, um copo de chocolate quente abandonado (provável que já tenha gelado). Restos de papeis de chocolate espalhados pelo quarto. (3:22) A desordem me causa úlceras, mas a vontade de não sair da cama chega a vencer, ocasionando um ciclo louco e confuso. Revistas velhas e novas se misturam àqueles antigos livros de química. Meu Deus! Até quando? Seu pensamento também se perde assim, pelas horas? (3:24) Você se apaixona toda semana por um novo personagem? Sejam dos livros, dos filmes ou os que supostamente acreditamos ser reais. Convenhamos, se nem nós mesmos temos certeza absoluta de quem somos, quando nos apaixonamos estamos nos encantando por aquilo que acreditamos ou criamos em cima de outra pessoa, não é mesmo? Ou são elas que se recriam por nós e vice e versa? (3:30)Existe uma palavra designada ao medo de computadores (logizomecanofobia), mas a verdade a que mais me assutou foi a narigofobia, como se vive com medo de narizes? Eis que a tal insônia me levou a esta lista infinita de fobias, e o nome que me pareceu mais coerente até agora foi a "maniafobia". Leia este texto e me diga que diante de tamanha incoerência você também não tem medo da insanidade. (4:00) Logo mais o dia nasce!

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Go away

Deixe-me te contar uma coisa sobre você que lhe passou despercebido. Aliás, sobre você e o mundo. As pessoas não mudam. Elas podem até tomar consciência do que elas são na verdade. Isso caso elas venham buscando-se de algum modo. Mas você não mudou. Esse seu jeito desleixado de não se importar, de não se apegar nem aos seus afetos. Esse seu jeito mundano de ir e não voltar, de não querer saber e não querer que saibam. Esse seu "não devo nada" é tão você que chega ter um cheiro próprio. E eu jamais condenaria isso. Eu jamais negaria seu jeito de ser. Eu tenho meu, meio camaleão, que se adequa as suas loucuras e você sabe bem. E por isso vem, periodicamente atrás do abraço que ainda lhe cabe feito luvas pré desenhadas. Esculturas pré moldadas. Mas coloquemos os pontos em seus devidos lugares aos ís. Me fale de você. Esse você nu e crú. E não esses discursos falsos do que você queria ser e não consegue. Eu aprendi com alguém que é impossível fugir por muito tempo daquilo que somos. O que somos é como um passado, só que mais encorpado. Ele volta e se finca em nós. Nossas essências, nossos quereres e os não quereres. Quando todo esse discurso de um ser mais brando, mais sábio e quieto lhe toma a boca eu tenho vontade de ir embora. Ele até me parece bem apetitoso, mas não se trata de você. Então o que tenho a dizer sobre você à você é que pare. Porque essa quietude que almejas só lhe será concedida quando você entender e aceitar que o seu eu é um reboliço, como o vento, sem rumo e em pleno movimento. Como eu. Então, por favor, me evite a fadiga. Me evite se puder. Me deixe aqui, quietinha, como sempre estive em meus pensamentos. Ao invés de achar que possui o direito de vir e me dizer de tudo que você gostaria de ser. Apenas pra me ter. Porque se em algum momento eu já fui tua foi exclusivamente fruto da sua veracidade. E toda essa fantasia apenas me da sonolência. Numa velocidade absurda de confusas sensações angustiantes em meu peito. Go away.