quarta-feira, 23 de junho de 2010

.

O telefone não toca
a solidão se estoca
o frio se aguça
combinado às páginas

O telefone não toca
O corpo por perto está
A cama vazia
últimas páginas do livro

O telefone não toca
Os lábios tremem
Joelhos oriçados
pétalas de rosa

O telefone não toca e o tilintar imaginário fecha e abre suas pálpebras

terça-feira, 22 de junho de 2010

Tolice

Cansei do frio, do ser e de todas as supostas esperas esféricas de minh'alma. Cansei dos pensamentos circulares, cíclicos que montei na cara. Cansei de achar que sou, sendo nada ser e das palavras cansadas, desgastadas, de meu vocabulário medíocre e chulo. Cansei da palavra cansaço, do descaso que se tem. Do tom irônico da felicidade só. Desgastei-me da minha insensatez de ter o mundo inteiro e sentir não ter. Da tolice que parece, que é, que sou, tornei-me.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Furacão

Deixa eu achar que essa porta aberta me dará o gosto de um novo ar. Eu sempre preciso do novo e não há mais cortes de cabelo a serem feitos. Deixa estar, já dizia um qualquer, pois nenhum novo tonalizante e nem sequer uma boa maquiagem vai me despir hoje. Odeio deixar ser, quero sim é ser inebriantemente, essa inconfundível leveza do ser, que se instaura num meio termo de mulher. Troco as palavras, bebo o mundo. "Encho a cara de mundo", encho o mundo de mim. E no fundo deixo que um milhão de mundos caiam sobre e assim.
Ah essa subjetividade me mata. Um dia ainda grito, na lata.
Nada nunca será um passaporte, entenda que a mão é um corpo inteiro, eu sou inteira e jamais usaria do rápido para fazer do tudo um cômodo da casinha que eu quero construir e fugir.
Não tenha dúvidas quanto ao meu desejo de fuga, as vezes acho que para ser eu é preciso ser longe, não longe daqui, mas longe disso tudo que me faz ter medo de mim.
Gosto da coragem que seus olhos cedem aos meus, da vivacidade . Mas o meu morreu. Acho que se jogou pela janela e não pode mais fazer por mim (juro que ainda pararei de rir da desgraça alheia).
Ou morreu, ou se escondeu em uma rosa vermelha de um conto frio, "relaxa" os mocinhos sobrevivem ao final.
Eu sou vilã, já me disseram, devastadora e puta de calçadas. Mas muito bem vestida. Juventude transviada?
Agonizo em uma caixa de bis branco, preferencialmente, e não choro, minha vontade não é de chorar, nem de rir, muito menos de gritar. A minha vontade é de sentar na escrivaninha que arrumei e ler aquelas fórmulas todas que jurei pra mim, hoje. Mas ao sentar, aquele mundo lá de cima, que jurei, começa a se formar na minha cabeça. Quero uma parede verde, um chá da tarde e um gato ronronando.
Então é difícil dizer pra mim do tempo que as coisas tem, das horas das vivências, minha cabeça é um turbilhão, eu vivo os dias que nunca virão a cada segundo e nunca me dou conta do segundo que foi.
Sou ninho sem passarinho, sou furacão sem vento, sou chuva sem água, amanhã sem hoje e febre sem termômetro. Uma eterna incompleta do amanhã que não floresceu