Alguma música lutuosa tocava quando entrei na varanda, o portão encontrava-se entreaberto creio que era mesmo para mim. Ouviam-se soluços e o porquê do meu não soluçar cortava-me também. As mulheres têm a tal mania de cavar suas próprias covas e eu queria poder entender. Sei que falam de rosas e amores, mas eu não sei por onde andei que não quis mesmo com porque entregar-me a isto.
O meio cômodo da cômoda, minhas blusas jogadas misturadas com espumas de travesseiros, creio que resultado de um acesso de raiva. Ainda não chorei e nem sei se vou. Agonizo por não sentir e sinto por agonizar.
Fechei os olhos, dei um passo e "boom", o disparar do meu peito foi tão grande, tão instintivo, tão, como poderia buscar palavras? Foi mesmo um tiro, ao mesmo que acelerou com a adrenalina, congelou com a perda de sangue. E eu que nada sinto, vejo então como se meu corpo estivesse vivendo tudo isso, todo esse sentimento misto de perdas e ganhos e angustias, sei lá. E fico ali em cima, pairando pelo ar, vendo tudo que acontece com ele e com o outro corpo.
O olhar ainda não me viu. "Só vim pegar as coisas", "as coisas", "minhas coisas", repito mentalmente, meus lábios movem-se e nenhum som, nem mesmo um grunhido. Aquele corpo que mais parece jogado as traças, que transborda líquido, que se perde ao chão, parece não ter vida. O que foi que houve? Sinto-me completamente desconectado do mundo, não consigo juntar as memórias, as informações e entender o porquê daquilo tudo, parece que alguém se perdeu, por quê? Porque esse parecer?
Não sei das cores, nunca soube de amores.
2 comentários:
A Andança.
Entro no Áspera Seda, onde o bom Michel luta contra o anonimato. No auto de um quadro de 788 faces eu encontro a estampa de Deby Dias, que quer a Guanabara, quer o Rio Nilo, e acima de tudo estilo, como disse o Zeca muito tranquilo. Ando mais um pouco, um clic, e estou em outro mundo. Ouço uma canção que não rima com nada e combina com tantas coisas. Vou. Vejo. Falo.
Sou Jefhcardoso do http://jefhcardoso.blogspot.com e decidi escrever o diário da andança.
Mais adiante vejo espumas depois do vinho, e vinho depois das espumas, e a bela moça que reflexiva transforma-se em algo que não sabia...
Abraço: Jefhcardoso na Andança
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