domingo, 4 de abril de 2010

Vinhos e palavras

Pedi um copo d'água com gelo, sentei-me a mesa esperando a paz. Quis também um cigarro e uma taça de vinho, a música era possivelmente inspiradora, mas não sei. A vitrolinha estava meio bamba ainda sim o som era mais real que o do mp3 que eu havia comprado dois dias atrás, tocava meus ossos largos. Abri o caderno e resolvi por nele as palavras que não me pertenciam, o discurso que havia ouvido há umas duas horas ainda ecoava em minha mente e mesmo se refazendo fielmente a cada vez eu não conseguia absorvê-la.
"Palavras, palavras e palavras". Era assim, como se não houvesse coerência, palavras e mais palavras que me pediam piedade e compaixão talvez, queriam expressar a vontade de lutar por dois, mas minha cabeça rodava e rodava e nada. Pensei que escrevê-las ajudaria, nunca houve em mim a incompreensão textual, a fazia noite e dia. Mesmo assim ainda eram palavras sem sentido e me tornavam cada vez mais fria. O gelo derretia no copo entrando em equilíbrio com meu corpo, sem nexo, meu corpo estava mais frio que o gelo. O vinho descia-me deliciosamente pela garganta e eu desisti do cigarro, eu sabia que em vão. Tentei mil vezes largar esse hábito. E o vazio no papel.
Levantei-me, o dinheiro posto junto ao copo suado e caminhei meio desconecto até a casa, eu nem me direcionei, foi mecânico, pobre corpo, mal sabia que havia sido jogado fora de lá.

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