sábado, 26 de abril de 2008
Caixinha de sapato
Eu tentei tapar o sol com uma peneira, daquelas velhas e meio rasgadas de tanto serem usadas. Eu tentei esconder-me da alegria que aquela energia muito maior do que eu me trazia, eu fui entrando em meios escombros e resquícios dos sentimentos velhos e nada proveitosos, que eu guardei em uma pequena caixinha de sapato. Aquela mesmo que aos seis anos eu achei bonita, fora talvez o meu primeiro salto que tenha vindo dentro dela. Porém eu guardei a caixa, o salto de nada mais vale, mas as lembranças que venho guardando dentro da pequenina caixa, me valem muito, aprendizados e tristezas... Algumas coisas, eu sei bem que deveria ter desfeito, dado, jogado fora, mas me apeguei como uma criança se apega ao seu travesseirinho de cheirinho de dormir. Porém, muitas das coisas as quais eu venho guardado, são de ponta afiada, essas que se você não tomar cuidado se corta, sangra e dói. Mas é meu pequeno grande vício, sabe como é. Prendem-me, ao passado, que talvez no fundo não façam mais sentido algum, mas ao mesmo, fazem todo o sentido desse mundo, já que me tornaram quem eu sou. Parando agora, pensando um pouco, vejo de olhos fechados, que certas coisas vem para fazer efeito temporário, ou de tempo todo, pra toda sua vida, mas a grande importância delas se fazem ali, naquele momento vivido, assim, guardá-las para todo o sempre pode até mesmo ser como uma ameaça e você acaba fazendo com que o verdadeiro sentido da coisa, que já aconteceu e que era para ter ficado somente lá atrás, se perca. Já que você trouxe em suas breves e longas lembranças, arrastando-as e corroendo-as com o tempo, até que simplesmente as cores se percam e o sentido se vá. E de que adianta tapar o sol com essas peneiras velhas?
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